Como se vive a nova normalidade no sector da beleza profissional?
Este é o tema central da mais recente edição da Tom Sobre Tom, que contou com a colaboração de vários profissionais cujos testemunhos partilhamos aqui.
Inácio Eiras
Eiras Cabeleireiros, Guimarães
A norte, no Eiras Cabeleireiros, viveram-se momentos de muita ansiedade nos dias anteriores ao regresso ao activo como nos contou Inácio Eiras. A incerteza de uma circunstância sem precedentes levava-o em pensamentos negativos. Para os ultrapassar focou-se nas pessoas próximas e na preparação do salão para a reabertura. Com esse objectivo no seu horizonte, nos dias anteriores ao regresso estabeleceu, em conjunto com a sua equipa, “um método de trabalho e de actuação na higienização e desinfecção do espaço e materiais”. Estas novas regras permitiram-lhes “ser mais eficientes e fazer uma melhor gestão do tempo”. Ainda assim, confessa-nos que apesar de se sentirem preparados para oferecer os serviços técnicos, que os clientes tanto procuraram no desconfinamento, a parte emocional e humana “sofreu uma lacuna”. “A falta de contacto próximo com os clientes”, para quem a ida ao cabeleireiro há muito que não é só uma necessidade de imagem, mas também “um ritual de emoções e sensações”, foi muito sentida, conta-nos. No entanto esse vazio foi colmatado com “um atendimento mais selectivo, profissional e personalizado” e por pequenos gestos. Para Inácio, as atitudes mais simples são as que marcam a diferença. Como o telefonema para saber como se encontravam, do director da Alfaparf Milano. Ou a forma que esta empresa criou para que os clientes recebessem os produtos directamente em casa durante o confinamento. Para este profissional “os pequenos e simples gestos definem uma pessoa, uma empresa e uma marca”.
André Araújo
Studio 387, Braga
Ainda no Minho, mais precisamente em Braga, encontramos o amplo Studio 387, que oferece serviços de cabeleireiro, estética e visagismo. Quando as portas do salão reabriram, foi visível para os clientes as alterações no espaço, como a colocação de várias divisórias e a anulação das salas de estar. Remodelações necessárias, segundo André Araújo, para a criação de um espaço “onde os clientes regressam e se sentem seguros”.
O hairstylist e proprietário confessa-nos que este período está a “um verdadeiro choque de percepções”. Por um lado, reparou que as clientes deixaram de procurar os serviços de brushing e que “agora só fazem marcações para cortes e colorações”. No entanto, a revenda e aconselhamento de produtos profissionais aumentaram exponencialmente. Os serviços de revenda contam com o total suporte da JCasado, uma empresa com quem trabalha há muitos anos e que sente “que apoia os profissionais em todas as ocasiões e investe fortemente nas formações”. Uma área de muita importância para André, pois acredita que o conhecimento é uma das bases fundamentais na profissão, principalmente na especialização de serviços. Para André a via da Formação é a única forma de trazer sempre a actualidade para o seu espaço. Não fosse também o Studio 387 um local de referência em serviços de noivos, uma área que está em constante evolução. Positivo e confiante, André acredita que “esta é uma fase que todo o sector vai ultrapassar”.
Isabel Salgueiro
Instituto de Beleza Isabel Salgueiro, Viana do Castelo
Em Viana do Castelo, Isabel Salgueiro optou por procurar empresas certificadas para dar formação à sua equipa sobre as novas práticas de higiene e segurança a adoptar em tempo de COVID. Depois de (in)formadas “foi feito um cruzamento de dados para que todas as regras fossem cumpridas escrupulosamente”. Fizeram também alterações no espaço para o tornar ainda mais seguro como “a colocação de acrílicos no balcão de pagamento, remodelação das casas de banho e a colocação de um tapete de entrada certificado com desinfetante e sempre humedecido”. Em relação à adaptação a esta nova “normalidade”, Isabel confessa-nos que nas duas primeiras semanas “foi um pouco difícil pois cada funcionária tem que utilizar uma bata certificada de manga comprida, máscara (que com o uso prolongado provoca algumas dores de cabeça e cansaço), touca e óculos de protecção”. No entanto, o esforço foi compensado com a elevada procura de tratamentos de corpo. Todavia, por outro lado houve pouca adesão aos tratamentos de rosto, que Isabel acredita dever-se “ao receio que as clientes sentiam por não estarem a usar a sua máscara”. Mas contornaram esses “medos” com o uso, por parte da profissional, de duas máscaras P2 e P3 “para que ambos se mantivessem protegidos”. Actualmente, só não realizam serviço com vapores no rosto.
Isabel conta-nos ainda que sentiu também, durante e após o confinamento, uma grande procura por produtos para continuar os tratamentos em casa, um serviço que já era uma referência no seu espaço, e que o digital ajudou a que continuasse. As redes sociais e o meio digital no geral foram, segundo a esteticista, “uma mais valia na quarentena”, porque realizou muitas formações, assistiu a outras tantas e ainda conseguiu estar próxima dos seus clientes, esclarecendo duvidas e enviando-lhes os produtos que encomendavam.
Carlos Almeida
Anjos Urbanos, Porto e Santo Tirso
Ainda no norte do país, com espaços no Porto e em Santo Tirso, Carlos Almeida recorda que o início não foi fácil, “o custo dos descartáveis era muito elevado e o receio das clientes era notório”. Mas agora, olhando para atrás, acredita que além da valorização do papel do cabeleireiro na sociedade, este período proporcionou, sobretudo, a união e a partilha entre colegas. Uma aproximação que se deveu muito ao digital e às redes sociais. “Os directos diários na rede social Instagram levaram a um estreitamento de relações entre profissionais e clientes, marcas e profissionais e entre colegas de profissão”. Assim como as formações lançadas nesta rede social pelas marcas como a Alfaparf Milano, que Carlos Almeida admite que “foi incansável, disponibilizando inúmeras formações para aprendermos mais e melhor e nos mantermos ocupados”.
O período de confinamento foi também importante para as clientes dos Anjos Urbanos ganharem uma “maior sensibilidade para optar por produtos profissionais de qualidade”. Carlos Almeida acredita que os clientes sentiram que no tempo em que estiveram em casa, os produtos de supermercado não foram os melhores aliados dos cabelos. E, por isso, agora optam pelos produtos indicados pelos profissionais.
Bruna Santana
Bruna Santana – Hair Artist, Lisboa
Para Bruna Santana 2020 marca o início de um novo projecto na sua vida: a abertura do salão Bruna Santana – Hair Artist, em Lisboa, para o qual criou um conceito inovador: realizar visuais de sonho que exijam pouca manutenção. O perfil das suas clientes estava bem definido, mulheres com “carreiras e vidas muito agitadas”, que não têm disponibilidade para se deslocarem muitas vezes ao salão e para quem desenvolveu técnicas de coloração e madeixas criativas. O confinamento veio “baralhar” tudo o que tinha projectado e por isso o regresso foi vivido com alguma ansiedade “não só pela situação económica, mas porque ainda estavam a fidelizar clientes”. Mas, volvidos três meses o balanço revelou-se positivo, apesar “do investimento maior, mas necessário, nos materiais de higienização e de adaptação do espaço, com a implementação de calhas de acrílico nas rampas de lavagem”. A verdade é que a agenda já vai longa e até teve que contratar mais três profissionais, um para se dedicar exclusivamente à gestão da agenda, um profissional de cabelo e outro de estética. Mas nada acontece por acaso. Para esta “fidelização” contou muito o trabalho realizado durante o confinamento: intensificou a comunicação nas redes sociais e apostou no home care com venda de produtos para garantir às suas clientes um cabelo cuidado e tratado mesmo em casa. Neste processo, a Joico revelou-se um grande aliado “pela qualidade de produtos, pela disponibilidade e pela comunicação fácil da marca”. Bruna conta-nos ainda que a “estruturação do negócio é o segredo do sucesso”, e por isso também fez uma formação em gestão, empreendedorismo e marketing.
Ana Paula Rocha
Toque final, Sesimbra
Em Sesimbra, no Toque Final podemos encontrar a Ana Paula Rocha, que, muito positiva, nos contou que o regresso “correu muito bem, porque os clientes aderiram imenso”. No entanto, os desafios foram muitos, mas entre eles, destaca o custo dos descartáveis e o uso dos materiais de protecção. Porém, acredita que “tudo vai melhorar”, que as mudanças também podem ser positivas e que os momentos que vivemos são exemplo disso. Na quarentena Ana Paula fez muitas formações, que “são uma mais valia para o domínio das técnicas”, disponibilizadas pela Gova. Uma marca com quem trabalha há mais de 25 anos e que, além de formações, a manteve sempre actualizada e informada sobre as directrizes e normas a adoptar aquando do regresso.
Uma das soluções a que teve de aderir, depois de informada sobre as novas regras, e que se demonstrou muito positiva, foi o atendimento por marcação. Com este novo sistema “dispõe de muito mais tempo para cada cliente” e trabalha com mais calma, o que se manifesta também no trabalho final. Outro aspecto que considera favorável a retirar da situação, foi o estreitamento de laços com as clientes, através redes sociais e que agora, devido à utilização deste meio digital, as clientes fazem mais marcações online. O que se revela vantajoso para a organização da agenda e para a própria cliente. Mas ainda assim aguarda por dias melhores, com mais procura de serviços, como os cortes masculinos que sentiram algumas quebras.
Graça Sovelas
GentilCare, Setúbal
No mesmo distrito, em Setúbal, Graça Sovelas, do Centro de Saúde e Bem-Estar GentilCare viveu uma realidade diferente. A Gentil Care não recorreu ao lay-off, como a maior parte dos empregadores do sector mas concorreu ao programa “ADAPTAR” para micro empresas. No entanto, Graça Sovelas, revela-nos que “neste momento o valor que prevemos de custos fica muito aquém daquilo que estamos efectivamente a gastar”. Ainda assim, sentiram que os tratamentos de pés e mãos foram retomados em pleno. Ao contrário dos tratamentos de rosto e corpo, muito ainda pela insegurança que os clientes sentem pela proximidade física a que estes tratamentos obrigam.
No Gentil Care, por saberem que a estética é uma área que as clientes iriam ter mais receios, adoptaram ainda mais medidas de protecção e higienização, que são cumpridas por todos os funcionários “de forma exemplar”, garante-nos Graça. Preocupadas com o meio ambiente, criaram também uma protecção de pés lavável e reutilizável, que é um sucesso junto dos clientes, conta-nos.
A esteticista acrescenta ainda que o digital foi um grande aliado, porque “permitiu manter a proximidade com os clientes” e simultaneamente intensificar a divulgação e publicitação dos serviços que definem a empresa. Esta estratégia visou numa “retoma forte na procura da maior normalidade possível na vida de cada um dos nossos clientes”.
Susana Riscado
Belart, Portalegre
Mais a sul, encontramos o Belart, um espaço que oferece tratamentos e cuidados de beleza, bem-estar e relaxamento do corpo e da mente. Durante o período em que estiveram encerrados, Susana Riscado, proprietária, teve de recorrer ao apoio da Segurança Social para Trabalhadores Independentes para fazer face às despesas e assim conseguir manter o negócio. Nessa altura a equipa do Belart aproveitou para realizar muitas formações online e publicitar o espaço nas redes sociais. O que, no regresso, se traduziu num maior número de novos clientes e na fidelização de outros. Um crescimento que Susana acredita se deveu em muito também “às alterações que fizeram no espaço e ao cumprimento rigoroso das normas da DGS”. Para assegurar um atendimento em segurança, e responder a uma maior procura logo na reabertura, optaram por trabalhar mais uma hora e meia por dia ate voltarem “à normalidade” dos horários. As “epilações”, foram o serviço mais procurado e os tratamentos de rosto os que tiveram menos procura, mas também tentam não publicitar os mesmos “porque ainda não se sentem totalmente seguros para os realizar”.
Angélica Soares
Cocoon, Tavira
Já no Algarve, no centro de estética Cocoon, Angélica Soares conta-nos que esta nova realidade criou uma oportunidade e uma nova forma de reagir com criatividade, flexibilidade e sabedoria a esta adversidade. Antes de abrirem, a 18 de Maio, foi feita uma reflexão sobre a situação, o espaço, a equipa e os clientes…. Assim criaram um compromisso de trabalhar neste novo tempo, de forma optimista, com todas as regras de segurança e higiene exigidas pelas DGS. Para isso tiveram o apoio da empresa “Viva Mais”, já encarregue da formação de segurança e higiene no trabalho do Cocoon. Esta elaborou um plano de contingência específico para o espaço e “deu preciosas dicas para estarmos todos seguros e confortáveis”.
Regressaram apenas com os serviços de cuidados de mãos, pés e epilação, e semana a semana “fomos acrescentando mais uma área de cuidados de estética, bem-estar e terapias”. Organizaram a agenda entre os terapeutas e técnicas de estética, reduzindo a carga horária do trabalho diário, tornando mais fácil e cómodo o uso dos equipamentos de protecção individual, que no início “causavam algum desconforto respiratório”. Para superar os custos dos materiais descartáveis e desinfecção, no Cocoon criaram um kit para cada cliente, que é cobrado, com o valor real do mesmo, no serviço.
A filosofia do Coocon passa por uma abordagem integrada, em que o cliente deve dar continuidade do tratamento em casa com os produtos recomendados. Como têm obtido resultados visíveis e eficazes “graças à marca que elegemos para trabalhar, a [comfort zone], e ao diagnostico que praticamos, os nossos clientes estão satisfeitos e têm continuado a consumir os nossos produtos e a recomendá-los”.
Por fim, Angélica conta-nos que agora já se encontram a fazer horário laboral normal, e que “a equipa está adaptada de forma a agir para nosso bem e para bem do nosso cliente”.