Qualificar o sector – Um compromisso comum
No mercado da beleza profissional a evolução e a mudança são uma constante. Perante esta dinâmica, a actualização técnica e tecnológica, a inovação, a legislação,
o acompanhamento das tendências, o serviço integrado ao cliente e os conhecimentos de gestão e marketing são factores-chave de evolução e de sucesso.
São estas as principais conclusões do repto que a Tom Sobre Tom lançou às principais associações do sector, para que possam dar a sua visão sobre o estado e o futuro deste mercado, identificando os principais desafios e o seu papel enquanto entidades que têm por missão apoiar os profissionais e zelar pela sua credibilização e valorização.
Fernando de Sousa, presidente da Associação de Cabeleireiros de Portugal (ACP) fala da necessidade de “formação contínua” e “acesso à informação” como forma de os “profissionais estarem sempre actualizados e atentos aos requisitos dos seus clientes, cada vez mais informados e exigentes. É imprescindível que os profissionais saibam reinventar-se e apostar na inovação”, sustenta.
Esta opinião é partilhada por Teresa Vinhas, directora executiva da Associação Nacional do Corpo e do Cabelo (ANCC), mas acrescenta-lhe a dimensão humana e os valores que devem reger os profissionais, de modo a marcar a diferença numa arte que, além da componente técnica, “está intimamente ligada a experiências, emoções, bem-estar e auto-estima”. Para tal, sublinha, ”só os profissionais de mente aberta e comprometidos com a sua evolução e melhoria constante, sentirão necessidade de aprofundar o conhecimento em várias vertentes do desenvolvimento pessoal e, assim, conseguirem uma visão integrada do cliente”. Teresa Vinhas afirma ainda que os “valores da ética, disciplina, compromisso, determinação e, acima de tudo, paixão são a estrutura basilar para enfrentar todo e qualquer desafio”.
O enquadramento legal da profissão é outra das preocupações comuns à maioria das associações inquiridas. No entendimento de Lurdes Sousa, presidente da Associação Portuguesa de Cabeleireiros e Estética de Braga (APCEB), “a falta de regulamentação acaba por provocar concorrência desleal, numa área onde existe uma grande competitividade”, ainda que o crescente número de interessados para entrar na profissão seja apontado como um factor positivo.
Na Associação Nacional de Esteticismo Profissional (ANEP), a batalha por uma legislação mais rigorosa é uma tarefa diária, defendendo um acesso mais restrito à profissão, na qual a qualificação, a credenciação e o respeito pelas regras e valores sejam reconhecidos”. Nazaré Nunes, presidente da Associação, afirma que estes são os alicerces de uma competitividade mais leal e justa, mas sobretudo são uma garantia de segurança para os clientes. Não encara com bons olhos o facto de profissionais que não apostam na sua formação “estejam em pé de igualdade com outros que estudaram anatomia, fisiologia, tecnologia”, e que investiram em “equipamentos e produtos de qualidade e em espaço com condições de higiene e sanitárias em conformidade com os requisitos exigidos”.
João Semedo, presidente do Clube Artístico dos Cabeleireiros de Portugal (CACP), partilha destas preocupações, e dada a falta de intervenção por parte dos organismos, defende que as associações do sector deveriam organizar-se para actuar em conjunto e exigir que “as regras existam e sejam postas em prática”.
Formar para a mudança e credibilização
Num mercado onde a criatividade e a moda andam lado a lado com a técnica e a tecnologia, o domínio de intervenção das associações centra-se bastante na oferta formativa, seja de actualização ou para iniciantes. A realização de workshops, palestras, congressos, eventos ou cursos é permanente e a diversidade dos temas explorados é cada vez mais vasta, incluindo áreas que transpõem os limites do que está estritamente relacionado com o exercício da profissão.
É o caso da ANCC, onde além da formação no âmbito “do conhecimento técnico e artístico, está focada em acções que permitam aos profissionais melhor informação, maior visibilidade e desenvolvimento pessoal”. Para isso, “apostam em serviços de consultoria que enfatizam temáticas relacionadas com recursos humanos, como PNL-Programação Neurolinguística e coaching, que visam criar competências para um atendimento integrado e de qualidade superior”, explica Teresa Vinhas. A associação desenvolve ainda formações exclusivas em Portugal, como é o caso do curso de Terapia Capilar, em parceria com a Academia Brasileira de Tricologia, e o curso de Drenagem Vacuumlinfática Manual, ministrado por Inês Fernandez, “formadora de prestígio internacional, criadora e seguidora do método”.
As actividades das Associações para cativar a atenção dos profissionais centram-se também na Expocosmética e In Beauty, as principais feiras do sector e onde a maioria destas entidades marca presença.
Com a Expocosmética à porta, a ACP planeia presentear os visitantes do certame, com as suas equipas a executar trabalhos inspirados no tema “Pensar Futuro”. Em parceria com esta associação, a edição de 2018 retoma o Show Oficial da Feira, durante a qual a equipa artística da ACP subirá ao palco para apresentar aos profissionais o tema DOGMA.
Na Expocosmética estará também o Clube Artístico e Cultural dos Cabeleireiros de Portugal (CACCP), integrado no Campeonato Nacional de Penteados. A associação presidida por Agostinho Brito proporciona aos profissionais e aspirantes desta área o acesso às novas tendências da linha moda, através de dois lançamentos anuais: Primavera/Verão e Outono/Inverno.
A ANEP marcará igualmente presença no certame, onde entre várias iniciativas, irá promover juntamente com um júri internacional, a realização de um exame aos profissionais de maquilhagem, que lhes dará acesso a um passaporte internacional de maquilhador. Além deste, a associação participa também na In Beauty, onde organiza um congresso que traz para a discussão temas relevantes e novidades do sector.
A toda esta dinâmica junta-se o grande trabalho que esta associação desenvolve há alguns anos “com menos visibilidade para os associados e para o público em geral”, refere Nazaré Nunes: a actualização dos referenciais para reestruturar a actividade. Foi graças a esta tarefa morosa, mas essencial, que conseguiram ser recebidos na Assembleia da República pelos vários grupos parlamentares para reivindicar a regulamentação do sector.
Redes Sociais não podem ser ignoradas
A procura no mercado da estética profissional está em franco crescimento, mas o número de profissionais também. Por outro lado, a abrangência de tratamentos, métodos, tecnologias, produtos e conceitos é tão extensa, que para os dar a conhecer é preciso que a área do marketing entre em acção, como forma de dar notoriedade ao negócio.
Na hora de escolher os canais de divulgação, o protagonismo é assumido pelas redes sociais e as diferentes associações são unânimes em considerá-las a pedra basilar da comunicação digital.
Teresa Vinhas adverte que “os profissionais deverão ser relevantes online ou acabarão por se tornar irrelevantes offline”, realçando ainda que “os espaços online deverão reflectir a paixão, a experiência e a competência dos profissionais, bem como as técnicas inovadoras que conquistam os consumidores”.
O parecer de Agostinho Brito vai ao encontro desta última ideia, lembrando que “as redes sociais devem ser usadas de forma positiva e consciente”, assegurando a coerência entre o que é anunciado e o que é praticado no espaço. “Através das redes sociais obtém-se uma opinião do nosso trabalho que chega ao grande público e tanto nos pode ajudar a atrair novos clientes como a prejudicar o negócio, se essa opinião for negativa”.
Lurdes Sousa lembra, porém, que existem ferramentas digitais que são uma mais-valia na personalização do serviço, ao permitir registar todos os trabalhos e respectivas actualizações, como as fichas de clientes e cartões personificados. Deste modo, a qualidade de serviço proporcionada é também uma boa forma de publicidade.
Paixão e realização pessoal incentivam os jovens
Num “mercado que tem muitas portas para serem abertas”, nas palavras de Lurdes Sousa, e sendo a beleza, a imagem, a saúde e o bem-estar factores tão valorizadas na nossa sociedade, o futuro do sector afigura-se promissor para as novas gerações de profissionais.
“É um mercado aliciante para jovens com paixão pela profissão, que munidos de valores e uma visão futurista, irão garantidamente trilhar um caminho de sucesso e reconhecimento, aliado à realização pessoal”, assegura Teresa Vinhas. “Deverão, no entanto, definir o seu posicionamento, criando a sua marca pessoal”, acrescenta.
Fernando de Sousa não tem dúvida de que a profissão de cabeleireiro é apaixonante, pela criatividade, glamour, beleza e constante inovação que lhe são inerentes. Prova disso são as centenas de jovens que já passaram pela Academia da ACP que tem como objectivo proporcionar formação e inúmeras experiências, para que “integrem o mercado de trabalho com horizontes alargados e possam dar asas à sua criatividade, técnica e arte”.