Como se vive a nova normalidade no sector da beleza profissional?
A reabertura do sector foi acompanhada de grandes desafios para os profissionais. Conhecer o papel das marcas neste regresso e a forma como se posicionam perante estes desafios complementam o tema central da nova edição da Tom Sobre Tom. Deixamos-lhe os testemunhos integrais da Alfaparf Milano, da João Casado Cosméticos, da NPNext e da Thalgo.
Miguel Ângelo
Alfaparf Milano
O mercado mesmo estando em constante mutação, nos últimos meses, excepcional e inesperadamente, o panorama mudou. Segundo Miguel Ângelo, Director-geral da Alfaparf Milano Portugal, neste momento os consumidores estão mais preocupados e conscientes, o que se traduz, por consequência, numa maior responsabilidade. Por isso, a Alfaparf Milano colocou ao dispor dos parceiros uma série de novos serviços para o salão, “porque apercebemo-nos que as pessoas querem o melhor resultado, no menor tempo possível e com a maior durabilidade”. Estes novos tempos trouxeram novas obrigatoriedades e o Grupo Alfaparf adaptou-se criando novas estratégias para apoiar os clientes. Produziu o seu próprio gel higienizante, disponibilizou material de protecção específico e reajustou os conteúdos de formação: “Abdicamos das formações em sala para evitar o ajuntamento de pessoas e migramos temporariamente para um conceito 100% digital”. As equipas comerciais também sofreram alterações, estando agora a trabalhar apenas com agendamento, para garantir que se deslocam aos espaços em alturas oportunas e sem muitos clientes.
João Casado
JCasado Cosméticos
João Casado viu este regresso de forma diferente para as diferentes marcas que o grupo representa, mas há desde logo um facto que é evidente: todos os espaços que trabalhavam já com agendamento e que o negócio decorria com sucesso não sentiram grande diferença na reabertura do sector. E acrescenta: “a forma como decorreu a primeira experiência do cliente no regresso ao Salão ou ao Centro de Estética é que determinou o grau de confiança e a retoma das suas rotinas de beleza”.
Olhando com maior detalhe para cada um dos sectores, nos cabeleireiros, a tendência foi para o serviço de brushing diminuir, o que para os seus clientes se revelou proveitoso porque “têm mais tempo para realizar trabalhos técnicos que são os mais rentáveis”. Para além disso, na (re)venda “os produtos de tamanho familiar passaram a ter maior procura”.
Na estética, identifica vários ritmos. “Já se nota uma recuperação na parte da estética” e uma maior procura dos serviços. No sector da manicure é o que se tem revelado, segundo João Casado, mais lento, “porque arranjar as unhas é ainda considerado um acessório e estando as clientes mais tempo em casa deixou de ser algo prioritário”. Com o bom tempo e maior disponibilidade para sair de casa, confirmou-se uma maior procura dos serviços de manicure e pedicure.
Tendo em conta o período atípico, colocaram-se muitas duvidas ao início, a informação “oficial” disponível não era esclarecedora e não se aplicava de igual forma no sector da beleza. Perante esta realidade, as equipas da J.Casado desmultiplicaram-se no apoio aos clientes disponibilizando informação e esclarecendo todas as duvidas e até “mitos” criados com os excessos em alguns casos na aplicação das normas impostas pela DGS. Criaram inclusivamente mais conteúdos de gestão nas formações, porque o cliente precisa e procura estar informado para saber responder aos receios do cliente. E, por saber que o regresso não seria fácil, aconselharam os clientes a recorrer a fundos disponíveis e nos primeiros meses não cobraram pagamentos de facturas. Como medida adicional, ofereceram ainda a cada cliente uma determinada quantidade de gel desinfectante para oferecer aos clientes e para ter no salão.
André Bernardo
NPN/ NPNext
No mercado dos cabeleireiros em particular, sente-se que os profissionais estão mais empenhados que nunca e rapidamente ajustaram os seus negócios a esta nova realidade. Esta pandemia criou um receio generalizado, mas rapidamente se percebeu que ficar parado não seria solução. Rapidamente perceberam que com algumas mudanças estariam capazes de dar uma reposta capaz a esta situação.
Na perspectiva de André Bernardo, da NPN, empresa de prestação de serviços de remodelação integral ou parcial de espaços, “as mudanças nem foram assim muitas pois este mercado já estava bastante profissionalizado e focado na segurança do consumidor e profissional. E acrescenta: “a realidade é que a anterior crise fez com que, de um modo geral, esta “nova” realidade não seja assim tão nova quanto isso, e desde dessa altura para cá o mercado já se tinha preparado a um nível que faz com que os profissionais tivessem a percepção como ajustar o seu negócio rapidamente, e neste momento nota-se claramente uma maior experiência.
Neste contexto, a adaptação da NPN a esta nova normalidade tem sido “bastante tranquila”, pois a metodologia mantém-se e não se desviaram do foco “dar resposta real e actual aos mercados onde intervimos, tendo sempre como principal objectivo a funcionalidade de um espaço”. Neste sentido, André, partilha que têm sido requisitados no âmbito da oferta da NPNext, (a marca de manutenções preventivas e correctivas), “onde temos trabalhado em alguns espaços fazendo intervenções, de modo a garantir que estes possam estar a funcionar a 100% e que os profissionais possam dedicar o seu tempo à gestão dos seus clientes e do seu negócio”. Para que tudo seja feito em segurança, a NPN alargou os prazos de execução “para evitar um maior número de pessoas no mesmo espaço”. Implementaram medidas de segurança obrigatórias para a segurança de todos, “mas de um modo geral já tínhamos como estratégia optimizar ao máximo em “backoffice” para ocuparmos o menor tempo possível o local da intervenção, sendo o mais “cirúrgicos” possível”. Nesta fase, e com alguns ajustes, conseguem dar a mesma reposta, garantindo a segurança de todos. Assim como na NPNext, a organização e um bom planeamento, são a garantia de um resultado eficaz.
Anabela Silva
Formadora Thalgo
A fase de reabertura do sector foi acompanhada de perto pela Thalgo que contribuiu com seminários sobre o tema, mas também com informação geral e específica tendo produzido e disponibilizado aos profissionais de Estética, documentos sobre procedimentos a adoptar no atendimento de clientes e na realização de cuidados de estética faciais e corporais, que neste contexto foram classificado em prioritários, secundários ou não aconselhados.
Após o confinamento, a retoma da actividade dos institutos e spas foi feita de forma progressiva. “Sujeitos a imperativos de protecção, na sua maioria não atendem o mesmo volume de clientes, nem trabalham com o mesmo ritmo”, afirma Anabela Silva, formadora da marca.
Esta tendência de abrandamento tenta ser colmatada por meio do e-commerce e aconselhamento online. Esta foi uma das formas mais usadas durante o encerramento dos espaços, e continua a sê-lo, tendo incrementado a necessidade de actualizar os acessos e conhecimentos para o uso de ferramentas digitais que permitem comunicar, publicitar e vender. “Assiste-se a uma maior procura de serviços relacionados com a epilação, manicure e pedicure ocupando as massagens de relaxamento um lugar de destaque e muito progressivamente os cuidados faciais e corporais”, conta-nos Anabela Silva. O produto de venda ao público tem tendência a substituir a ida ao gabinete, “talvez por ainda imperar algum receio de visitar espaços frequentados também por outras pessoas”. Por isso é que “apostar no aconselhamento ao cliente e estimular a intensificação da utilização de produtos em casa poderá, em alguns casos, colmatar, ou, pelo menos, minimizar, os efeitos da falta de cuidados em cabine, o que poderá também representar uma mais valia financeira para os institutos”. Para Anabela Silva, “a existência de um kit individual de protecção e de medidas de desinfecção suplementares transmitidas previamente ao cliente antes do dia da sua deslocação ao instituto ou spa” são sugestões que a marca deixa “que poderão tranquilizar as ansiedades”. Para além disso a Thalgo reforça as vantagens da oferta de cuidados recorrendo à aparatologia como é o caso do equipamento Ibeauty, “que será uma mais valia neste tempo já que o toque da mão não assume uma importância tão relevante como o existente noutros cuidados faciais. As luvas da profissional não se tornam desconfortáveis ao contacto com a cliente já que, são as tecnologias combinadas de ultra-sons, micro-correntes e radiofrequência que vão actuar para produzir efeitos”, revela-nos.
Quando questionada sobre o impacto das restrições de reabertura do sector na forma de trabalhar da marca, em particular dos departamentos Comercial e de Formação, as alterações são evidentes. Os meios digitais para os comerciais revelaram-se importantes mas ainda é muito importante o contacto telefónico porque nos podemos aperceber melhor das dificuldades da cliente, tanto a nível anímico como a nível do desenvolvimento do trabalho. Actualmente, já se começa a conseguir agendar, de forma mais generalizada, algumas visitas com marcação bastante antecipada.”
Na área da Formação, a marca reformulou todo o processo, substituindo as formações teóricas presenciais por online e as práticas com um número limitado de participantes. Os conteúdos foram revistos e adaptados, “quer em duração, quer em formatos, adequando-os à web”. É ainda dentro da perspectiva da formação segura, que no futuro a Thalgo visa consolidar cada vez mais as suas formações “usando o recurso a uma plataforma de aprendizagem, juntando-se assim à vanguarda dos modelos de educação à distância através do recurso às formações em e-learning e b-learning”.