Confinamento: O lado positivo

No dia de abertura do setor, falamos com Gonçalo Nascimento, Diretor da Divisão Profissional da L’Oreal que nos faz um balanço deste período de confinamento e do seu papel ativo junto das Associações para preparar o mercado para o regresso.

 

Hoje assinala-se sem dúvida uma conquista para o setor ao ter sido das primeiras atividades a abrir.  Que argumentos foram determinantes?

Falamos de um mercado com um volume de negócios anual de, aproximadamente, 1.5 mil milhões de euros (entre produtos e transformação de serviços). Representa, portanto, uma fatia significativa do PIB do país (0,7%). Segundo os nossos dados, em Portugal existem mais de 11.000 salões de cabeleireiro, a que se juntam 2.500 instituições de estética.

São quase exclusivamente pequenas e nano-empresas, de cariz muitas vezes familiar, que empregam mais 30 mil profissionais, altamente dependentes deste rendimento e que ficaram totalmente impedidos de exercer a sua atividade. Além disso, há uma vontade expressa por parte das consumidoras de regressar ao salão, de voltar às suas rotinas de beleza! Isso é muito evidente nas redes sociais e nos estudos que efetuámos. Há quase uma função social que “obriga” à abertura, sempre e quando as regras da DGS sejam cumpridas. Isso é não negociável, claro.

 

Que expetativas tem para esta reabertura? Sente que os salões estão preparados? Qual serão os principais desafios?

A minha expetativa é que os salões estão preparados, pelo menos a maioria, para seguir as regras de segurança e higiene recomendadas de forma exemplar. Evidentemente que há um processo que tem de ser implementado, primeiro contactar o cliente, fazer a reserva, explicar-lhe as respetivas normas de higiene e depois no espaço cumpri-las integralmente. Em relação à questão higiene, acredito que será tudo cumprido, pois é um cuidado que esta profissão tem na sua génese.
As grandes dificuldades são mesmo recuperar a confiança dos salões neste regresso à nova normalidade. Mas as perspetivas são positivas porque sabemos que os clientes estão desejosos de voltar aos espaços, até porque fizemos um estudo, na L’Oréal, no qual entrevistámos 500 mulheres e que demonstra que  86% das mulheres portuguesas têm interesse em visitar o salão de cabeleireiro sendo que 83% tem como prioridade cortar o cabelo e 42% fazer coloração.

 

Que papel tiveram as Associações quer no apelo ao Governos e DGS como também na preparação do sector para uma abertura em segurança?

Trabalhámos muito próximo com as Associações na preparação da reabertura e na construção do Guia das Regras de Higiene e Segurança. Da nossa parte, colocámos toda a nossa expertise em matéria de higiene e segurança, recorrendo a especialistas internacionais dentro do grupo. As Associações foram muito importantes e ativas também neste processo…

Tenho a certeza de que o sector saberá reconhecer esse trabalho.

 

O período de confinamento foi certamente de aprendizagem e reflexão.  Que balanço faz das várias iniciativas desenvolvidas pela divisão DPP ao longo destas 6 semanas?

O balanço é fantástico. Estivemos mais perto do que nunca dos nossos clientes e desenvolvemos ações que vão ter grande impacto no futuro dos salões.

Através da nossa plataforma online de educação profissional Access (pt.lorealaccess.com), continuámos a realizar formações para os mais de 3000 profissionais registados, desenvolvemos conteúdos locais para upskilling dos nossos clientes, fizemos Lives, Tutoriais, Webinars, tanto para cabeleireiros, como para consumidoras. Lançámos a Loreal Partner Shop (lorealpartnershop.com), ainda em modo de teste, através da qual os salões podem nos comprar diretamente online, dando possibilidade a um trabalho comercial mais de desenvolvimento e consultoria… Fizemos o que em Fevereiro, pré-Covid19, nunca pensaríamos possível…e o mesmo posso dizer de muitos profissionais do sector, que aproveitaram estas semanas para aprofundar os seus conhecimentos, tal como as suas equipas. Este confinamento serviu para acelerar ferramentas digitais, para testar novas formas de dar formação, novos meios para os salões chegarem às suas consumidoras e venderem (Social Selling por exemplo…). Por tudo isto, dentro da realidade pandémica que vivemos, tiramos elementos e ensinamentos muito positivos.

               

Há alguma que mereça particular destaque? Porquê?

São inúmeras. Tenho mesmo dificuldade em salientar uma. Prefiro dividi-las por área:

  • Na educação todo o trabalho de upskill e todo o plano de lives feito pelas equipas e pelos nossos parceiros;
  • No contacto com a consumidora destaco a parceria que fizemos com grandes influencers portuguesas no sentido de colocar o sector profissional na mente da consumidora;
  • Na área da gestão e digital, destaco todos os contactos educativos e conteúdos criados para que os salões potenciassem as suas vendas nas redes sociais e que se tornassem relevantes nas mesmas (Focus, Kérastase, Steampod, HairtouchUp, Redken…);
  • Na área financeira/contabilística, o alargamento do crédito e congelamento dos recebimentos durante Março e Abril (para salões independentes…), esta foi uma medida muito apreciada pelos salões e, finalmente, a iniciativa“A beleza está em cuidar”. Esta iniciativa foi lançada no dia 17 de Abril e o balanço já é muito positivo. Temos mais de 300 salões de cabeleireiro integrados na plataforma. Estamos a apurar os valores semanalmente, mas posso lhe dizer que temos mais de uma centena de vouchers vendidos e que o sentimento das consumidoras tem sido muito positivo. É sintomático da importância do sector para a população portuguesa! Nesta última fase, com o aproximar do período de desconfinamento destaco o nosso plano para a retoma da atividade dos salões, que incluiu formações sobre medidas de Higiene e Segurança e formações sobre Melhores Práticas para a Abertura.

Finalmente, gostaria também de destacar o Gel Hidro-Alcoolico, que será um produto que integrará em permanência o nosso catálogo. A fábrica de Burgos já produziu os primeiros frascos de Gel Hidro-Alcoolico, de grande formato 400ml, e as nossas previsões, para um horizonte temporal de 12 meses, apontam para mais de 50mil unidades, 35% dos quais serão oferecidas na abertura da atividade dos salões de cabeleireiro, juntamente com 150.000 a 200.000 máscaras colocadas a preço de custo.

Tudo o que fizemos só foi possível porque tomámos uma grande decisão: mesmo com o encerramento temporário dos nossos clientes, todas as nossas equipas ficaram a trabalhar em home-office. Sentimos que, mais do que nunca, deveríamos estar perto dos salões nesta fase difícil. Foi a melhor decisão que tomámos, pois possibilitou a criação de um plano extraordinário.

 

Que feedback receberam dos profissionais?

Muito bom. Sentimos que fomos parceiros nesta altura difícil. Sentimos que ajudámos o sector! Inclusive na construção, conjuntamente com as Associações de Cabeleireiro, do plano de retoma, das Regras de Higiene e Segurança, que tão aplaudidas foram pelas autoridades.