Palle Freese – Construtor de visões

Talento, ambição e visão são palavras que podem definir Palle Freese.  Percorreu o mundo ao lado de algumas das grandes marcas profissionais de cabelos e hoje é director artístico do Hair Construction. Um projecto que lhe permite concretizar uma das suas paixões: formar outros profissionais, dando-lhes ferramentas para serem cada vez melhores e alavancarem o negócio nos seus salões.

O percurso de Palle Freese passou por algumas das grandes marcas de cabelos e beleza, como American Crew, Joico Europe, onde foi director artístico durante dez anos, ou Redken. Actualmente é director artístico de Hair Construction: uma cadeia de salões e academias que funciona num regime de franchising.

O seu projecto de formação diferencia-se por fornecer documentação simples e detalhada que explica como realizar centenas de visuais utilizando diferentes técnicas. Segundo o hairstylist dinamarquês, esta partilha de conhecimentos é muito importante porque o verdadeiro valor de uma técnica ou de um visual está em poder ser transmitido e reproduzido por outros profissionais, que poderão dar-lhe o seu cunho pessoal.

Numa conversa descontraída durante a Expocosmética, Palle Freese falou-nos sobre o projecto Hair Construction, a importância de partilhar conhecimentos, as tendências da estação… e também revelou o seu plano de abrir muito brevemente uma Academia em Portugal e fotografar a sua próxima colecção em terras lusas.

Para além de salões, Hair Construction é também uma academia. Para si, de que forma a formação pode fazer a diferença na carreira de um profissional?

Encontro profissionais que têm algumas lacunas em termos de técnica e, por isso, ficam limitados a fazerem o mesmo trabalho todos os dias. Ou fazem trabalhos free hand que, embora fiquem muito bons, não conseguem fazer de novo nem reproduzir em outros clientes. Considero muito importante ter controlo sobre o que estamos a construir – daí o nome Hair Construction, porque é isso que fazemos: ‘construímos’ cabelos. Mas é igualmente importante que o conhecimento seja transmitido de forma simples, porque se dermos ferramentas complicadas ninguém as vai utilizar. De que serve acharem que sou um grande cabeleireiro se ninguém utilizar as minhas técnicas? Gosto muito de partilhar aquilo que sei.

Temos uma equipa de 30 formadores, mas não nos limitamos a dar formação. Todos trabalham no salão porque é a base do que fazemos. E acredito que devemos ter a cabeça no céu, mas os pés assentes na terra. No meu caso, tenho pouco tempo porque viajo muito, mas sempre que posso gosto de trabalhar no salão.

Porque é tão importante o trabalho no salão? Quais são as principais necessidades e exigências dos clientes?

Eu sempre disse que no dia em que criasse o meu próprio negócio iria construir relações de confiança com os meus clientes. Por isso, temos um conceito muito profissional em que proporcionamos serviços de elevada qualidade e, muito importante, verdadeiras experiências ao cliente. Por causa da crise fomos aconselhados a baixar os preços, mas recusámo-nos a fazê-lo e, na verdade, crescemos 5%. Entendemos que as pessoas estão dispostas a pagar pela qualidade mesmo que, devido à crise, reduzam um pouco a frequência das visitas ao salão. Tendo isso em conta, apostámos na revenda.

Qual é serviço mais procurado no seu salão?

Sem dúvida, a coloração. Fazemos coloração em 82% dos clientes. Mas é muito importante que o cliente compreenda o valor deste serviço, porque qualquer pessoa pode aplicar tinta em casa. O que proporcionamos é um trabalho criativo e personalizado, que só é possível obter em salão. Não sendo um serviço, a revenda também é muito importante. No meu país vendemos mais produtos do que na maioria dos países da Europa. A percentagem média de revenda anda na ordem dos 10-12% e é de 25% no meu salão. A melhor forma de fazer uma revenda eficaz é através do aconselhamento ou mostrando o que estamos a fazer e porquê. Se utilizo uma espuma diferente daquela que a cliente costuma usar em casa explico por que o estou a fazer: por exemplo, porque dá mais brilho ao cabelo. Se ela gostar do resultado final é quase certo que vai comprar.

Hoje fala-se muito do poder das ferramentas digitais para potenciar o negócio. O Hair Construction tem uma aplicação internacionalmente premiada, o Stylez…

É uma aplicação para Android e iPhone que disponibiliza 100 visuais criados pela nossa equipa de Top Stylists. Depois de escolhido o visual, o cliente pode enviá-lo a um dos salões da nossa rede – que têm as ‘receitas’, isto é, o passo-a-passo de como consegui-lo – ao mesmo tempo que faz a marcação. Desta forma, o profissional pode preparar-se e também partilhar dicas e ideias com o cliente.

Esta aplicação é uma forma de abrir um diálogo entre o profissional e o cliente. Acreditamos que daqui a dois ou três anos teremos 10 milhões de utilizadores. E esperamos alcançar 100 mil cabeleireiros em todo o mundo. Estamos muito felizes com este projecto que, na realidade, tem como objectivo levar mais consumidores ao salão.

Qual é o seu segredo para o sucesso?

Não existem segredos, mas a existir seria o esforço e o trabalho. Acredito que se tenho uma ideia e consigo projectá-la, respirá-la, vivê-la e estou disposto a trabalhar ‘no duro’ para torná-la realidade, então vou conseguir. Há pessoas que pensam que têm uma visão forte, mas por vezes é apenas uma ilusão. Uma visão é uma boa ideia com muito trabalho por trás. Uma ilusão é uma grande ideia sem trabalho – é algo que está apenas na cabeça… E é óptimo sonhar, mas gosto de concretizar os meus sonhos. Nas minhas formações quero ajudar os profissionais a acreditarem que também podem alcançar os seus objectivos. Para além do trabalho árduo, acredito que quanto mais damos mais recebemos.

Pode falar-nos um pouco sobre as tendências desta estação?

Nos cabelos masculinos vamos ter mais textura e a barba continuará a ser tendência, como aliás tem sido nos últimos três anos. Os cabelos femininos vão continuar a ser muito gráficos e com linhas rectas, mas também vamos ter visuais suaves e delicados. O cabelo encaracolado está definitivamente na moda. Aqui em Portugal vemos muitos cabelos encaracolados, mas de onde eu venho a maioria são lisos e finos e, por isso, as clientes gostam de volume. Aqui alisa-se o cabelo… Queremos sempre aquilo que não temos (risos).