Karlos Wendell: De improviso a paixão
Há 20 anos o amor fez mudá-lo para Portugal. Na mala, Karlos Wendell, carregava o sonho de terminar o curso de Direito mas quis o destino que o universo dos cabelos se cruzasse no seu caminho. Numa entrevista à Tom sobre Tom, fala-nos do seu percurso até aos dias de hoje em que se afirma como um profissional de cabelo que “faz tudo”, revela- nos como alcançou o sucesso nos canais digitais e ainda partilha alguns detalhes da sua participação no Hairstyle – The Talent Show Brasil 2023, onde levou a bandeira de Portugal a palco.
Nasceu no Brasil mas foi em Portugal que a profissão de cabeleireiro entrou “de improviso” na sua vida. Quer contar-nos como tudo aconteceu?
Eu nunca tive a ambição de ser cabeleireiro e por isso quando cheguei a Portugal há 20 anos atrás, pensei em estudar e acabar o curso de Direito, mas precisava de me destacar, não podia estar sem fazer nada. Foi aí que uma amiga minha me disse que eu devia seguir a profissão de cabeleireiro, mas eu achava que não tinha jeito e por isso optei por ser empregado de mesa nos primeiros dois meses. Um dia fui a um salão cortar o cabelo e fazer um alisamento, mas correu mal. Mas o destino pregou-me uma partida (risos) como a proprietária estava a precisar de um assistente para varrer o chão, lavar cabeças e atender o telefone, e como pagavam mais do que aquilo que eu recebia como empregado de mesa, decidi aceitar. E foi aqui que despertou a minha paixão pelo mundo dos cabelos.
Quando decidiu que esta seria a sua profissão, que formações frequentou?
No primeiro salão onde trabalhei conheci uma pessoa do Centro de Formação de Cruz de Pau que acreditou no meu potencial como cabeleireiro e então convidou-me para assistir às aulas mesmo não estando inscrito porque eu ainda não tinha o visto. Foi a minha primeira formação onde comecei a dedicar-me verdadeiramente à profissão e onde, depois de ir ao Brasil obter o visto de trabalhador, recebi a carteira profissional. Depois fiz formação para ser formador e, entre 2013 e 2014, fui a várias feiras no Brasil fazer shows em palco onde dei formação em vários estados. Também frequentei o curso profissional de Craft na L’Oréal de 6 meses sobre correcção de cor, design de coloração, consulta de formação e estrutura capilar e outros no Brasil.
Neste seu percurso, que nomeações e prémios conquistou?
Já recebi vários inclusive no Brasil, um dos mais importantes foi a Medalha de Mérito Renascença fundada pelo governador do Piauí. Fui o primeiro cabeleireiro do meu estado a receber esta medalha. Em Portugal recebi o prémio de embaixador e o prémio de personalidade pela revista Top News, ambos pelo trabalho que faço tanto nas redes sociais como no mundo dos cabelos.
Fazendo uma retrospectiva da profissão de cabeleireiro, o que acha que mais mudou neste 20 anos?
Acho que o que mais mudou foi a Internet, tanto para o bom como para o mau. É um grande aliado da profissão porque ajuda a divulgar o nosso trabalho, mas acho que abre muitas portas para pessoas que não sabem fazer nada e só sabem tirar fotos de cabelos. Antigamente tínhamos de estudar como eu estudei, sofri para conseguir a minha carteira profissional e actualmente qualquer pessoa pode abrir um salão e ser cabeleireiro, basta ter um bom telefone e tirar boas fotografias.
Quais são então para si os principais desafios de um cabeleireiro actualmente e que papel tem aqui a formação na resposta a estes desafios?
O maior desafio do profissional de beleza é reinventar-se todos os dias porque se ficarmos parados, amanhã outros irão ocupar o nosso lugar e por isso temos de trazer novidades constantemente. Investir na formação é fundamental porque existem pessoas que acham que sabem tudo quando hoje estão sempre a surgir milhões de coisas novas que desconhecemos.
Em que áreas deverão os profissionais apostar?
Principalmente na colometria porque se não a dominarmos, não sabemos fazer o resto. E depois, no atendimento ao cliente, acho que falta um pouco também.
Em que fase do seu percurso decide que está na hora de ter um salão próprio?
Sempre fui uma pessoa muito batalhadora e quando me meto em algo quero ser sempre melhor então, enquanto ainda estava a fazer os cursos já sentia vontade de ter um salão. Comecei por trabalhar em vários salões mas não me identificado com nenhum, isto é, não me inspiravam e para trabalhar preciso de ter inspiração. Uma vez fui trabalhar para uma barbearia onde aluguei uma cadeira mas só podia atender senhoras num salão para homens. Na altura foi uma decisão complicada, alguns até me achavam “louco” porque atendia senhoras numa barbearia. Mais tarde, o dono teve um problema e fechou a barbearia, eu fiquei com ela e transformei-a num salão feminino, o meu primeiro salão.
Quais foram para si os maiores desafios na hora de abrir um salão?
O maior desafio é saber se vai correr bem. Sou muito sonhador mas claro que me dá medo porque enquanto no meu primeiro salão aluguei a loja, no segundo optei por comprar o espaço porque queria muito algo meu. E, recentemente abri outro espaço onde investi numa loja maior, o que traz sempre algum receio. Outro dos maiores desafios é saber quem vai trabalhar connosco porque é muito complicado conseguir contratar colaboradores.
O que destaca deste novo projecto?
Quando me propuseram um novo espaço com o triplo da área do antigo, não pensei duas vezes porque sempre tive o sonho de ter um salão muito grande, onde pudesse ter uma sala para eu dar formação e gravar os meus vídeos para o Youtube. Um sonho que se cumpriu agora com esta loja que tem 300 metros quadrados onde consigo fazer tudo o que quero.
Que serviços oferece e quais os mais procurados?
Ofereço um serviço completo de cabelo, estética, tratamentos de rosto, corpo e massagens. No cabelo, os mais procurados são sempre as balayages, as madeixas e os alisamentos.
Fale-nos do papel da equipa na sua estrutura e na visão que tem para o seu espaço.
A minha equipa é 90% do meu sucesso porque nós somos 6 cabeleireiros e 4 esteticistas e eu dependo deles para tudo, sozinho não conseguia chegar a lado nenhum. Tenho uma pessoa que já me acompanha há 17 anos, foi a primeira a trabalhar comigo e devo-lhe muito porque acreditou em mim e ensinou-me quando eu comecei a dar os primeiros passos.
Como se mantém uma equipa motivada?
Essa é a parte mais difícil porque cada pessoa pensa de uma forma diferente e portanto o que faço é motivar a minha equipa. Estou sempre a elogiá-los para poderem evoluir. É uma missão que tento cumprir todos os dias quando chego ao salão além de atender as minhas clientes.
Na hora de escolher uma marca para trabalhar, que critérios define como prioritários?
Para mim a qualidade dos produtos é essencial, não adianta a marca ser famosa se esse critério não estiver presente.
O que mais o apaixona na Alfaparf Milano?
A qualidade dos produtos, a sua ampla gama e o incentivo que a marca me dá, apoia-me muito nos projectos que quero realizar.
Que significado tem para si eventos como o Meeting Alfaparf Milano?
É fantástico e muito importante porque é uma forma de divulgar e valorizar o trabalho dos cabeleireiros e acho que às vezes até faltam mais iniciativas desse género aqui em Portugal. É importante promover o encontro entre pessoas que trabalham na mesma área.
A Alfaparf Milano está a ter um papel fundamental para mim porque estou a dar formação e também me ajudaram bastante neste projecto do meu novo salão e apoiam-me muito com as redes sociais
Que papel está a ter esta parceria no seu percurso profissional e naquilo que projecta para o seu futuro?
A Alfaparf Milano está a ter um papel fundamental para mim porque estou a dar formação e também me ajudaram bastante neste projecto do meu novo salão e apoiam-me muito com as redes sociais, algo que as outras marcas não faziam.
Fale-nos da sua experiência no Hairstyle – The Talent Show Brasil. O que o motivou a participar?
Já me tinham convidado para vários realities mas nunca nenhum falava sobre o meu trabalho. Quando me fizeram o convite para ir para Espanha participar no Hairstyle – The Talent Show Brasil, não pensei duas vezes porque se existe bandeira que sempre levantei foi a do cabeleireiro. É claro que me deu algum frio na barriga por medo mas como era o meu trabalho decidi arriscar.
Que significado teve para si levar as cores da bandeira portuguesa ao concurso?
Senti-me o máximo porque era o único a representar Portugal. Chamavam-me o “português de Portugal” e eu senti-me incrível, primeiro por estar a abrir caminho para outros profissionais e depois porque foi super gratificante levar a bandeira de Portugal, afinal de contas já sou português pois moro aqui há 20 anos e toda a trajectória de cabelo aprendi cá.
Como se preparou para a sua prestação?
Tentei preparar-me de várias formas para fazer madeixas, alisamentos mas nada do que preparei cheguei a utilizar. O mesmo aconteceu com os outros participantes que estiveram no programa. Por exemplo, nunca imaginei ter de fazer uma maquilhagem porque não sou maquilhador, mas no concurso tive de fazer por isso tudo o que preparei para o concurso teve de ser construído durante a prestação da prova.
Que papel teve aqui a Alfaparf Milano?
Foi com enorme surpresa que só descobri a 3 horas de entrar em palco que a Alfaparf Milano era patrocinadora do reality show.
E o que sentiu ao saber que a marca com que trabalhava era patrocinadora de um evento desta dimensão?
Ainda mais confiança na escolha que tinha feito.
Qual foi o seu maior desafio durante as várias etapas?
O maior desafio foi ter de voltar para a segunda gravação quando na primeira prestação fui logo “destruído” pelos júris. Quando me estriei no palco estava super empolgado e feliz pois sempre quis participar num programa destes pelo menos uma vez mas na minha vida. Mas na primeira prestação tive de fazer um corte e deram-me uma modelo com cabelo “afro”com quatro dedos de comprimento natural ondulado, o resto era liso e também tinha madeixas. A minha vontade era cortar o cabelo curto mas a modelo não o queria fazer e foi aí que respeitei o seu desejo. Fui o pior de todos os concorrentes e quando saí do palco pensei que ia ser eliminado naquele momento.
O que é que mais destaca da sua participação?
Apesar de ter sofrido bastante, aprendi a controlar os meus nervos, a descobrir que todos os dias achamos que sabemos tudo mas quando estamos a ser avaliados por outras pessoas, tudo é diferente. Aprendi muitas coisas que vou levar para o resto da minha vida, esta aprendizagem ninguém me tira.
Tem 180 mil seguidores na conta de Instagram e é Youtuber com mais de 100 mil seguidores. Como é que se alcançam números com esta dimensão?
Sim, sou muito forte nas redes sociais mas tudo o que alcancei foi graças ao meu trabalho. E sou muito orgânico nas publicações que faço. O meu canal de Youtube tem 10 anos e começou com vídeos com famosos como cantores e actrizes aqui em Portugal e com isso consegui atingir mil visualizações. Na altura da pandemia como não tinha nada para fazer, recuperei vídeos antigos de cabelos das minhas clientes e publiquei. Comecei a dar dicas de beleza e depois quando voltei para o salão gravei com as minhas clientes e mostrava o que corria bem e o que corria mal. De repente tive um “boom” gigantesco, cresci de 10 mil para 70 mil subscritores e não parou de subir porque comecei a colocar “pessoas reais” no meu canal de Youtube.
Na conta de Instagram aconteceu o mesmo, comecei a publicar fotos minhas nos vários lugares que visitava, a mostrar o meu dia-a-dia, os trabalhos do salão, coisas que me deixam chateado, pedia a opinião dos meus seguidores e também publiquei conteúdo do reality show que foi o que fez crescer muito.
Quais os conteúdos mais visualizados e comentados?
No Instagram, neste momento ainda é sobre o corte de cabelo que não correu bem no reality show e no meu canal de Youtube o que está agora em alta é uma permanente. Já ninguém usava permanentes mas de repente aquilo teve um “boom” gigantesco e começaram a perguntar-me qual era o produto que estava a usar para poderem fazer o mesmo. Depois também tenho um vídeo com dois milhões de visualizações que é sobre uma cliente que foi fazer um alisamento num salão e o cabelo dela caiu, então ela veio ao
meu salão desesperada para recuperar o cabelo.
Que recomendação deixa aos profissionais de beleza na utilização das redes sociais?
Actualmente, um profissional de beleza sem uma rede social é como um carro sem motor. Posso ser o melhor do mundo mas se ninguém vir o que estou a fazer, não serve de nada. É fundamental estar no digital. Antes de ter redes sociais, tinha um blogue onde partilhava fotografias dos meus trabalhos, depois mandava imprimir e colocava numa parede do salão e as clientes adoravam. Todos os meses mudava aquela parede com novas imagens, ou seja, aquilo era a minha rede social.